terça-feira, 11 de novembro de 2008

Responsabilidade Social das Organizações


Temos acompanhado nas últimas décadas o surgimento de uma nova ética empresarial, denominada de responsabilidade social corporativa. A emergência desse novo padrão ético-político-empresarial está associada ao movimento social que luta para a mudança do padrão ético-empresarial tradicional, no sentido de serem ultrapassados os limites das funções sociais das empresas. Essa mudança de paradigma empresarial assume como fundamento uma ação empreendedora alternativa que se associa, por princípio, ao paradigma socioambiental.


Insere-se, neste contexto, a importância de uma mudança de estratégia empresarial que aposta na idéia de que a sobrevivência corporativa, hoje, está calcada para além dos seus interesses econômicos dos negócios. Não pode prescindir dos princípios da inclusão social de novos atores sociais que assumem a condição de partícipes da estratégia empresarial de curto, médio e longo prazo.


A responsabilidade social corporativa se coloca em oposição ao padrão ético empresarial tradicional, visto que amplia tanto qualitativamente quanto quantitativamente o espectro de relacionamentos sociais. Trata-se de um modelo ético que amplifica a condição do empreendedorismo, habilitando-o para melhor se preparar para lidar com a crise macroeconômica, política, social e cultural em que estão inseridos os agentes econômicos.


Nos últimos anos tem crescido muito a divulgação, especialmente pelos meios de comunicação de massa, sobre experiências de investimentos privados com finalidades compatíveis com os interesses públicos. Aparentemente, isso poderia sugerir uma contradição, tanto do ponto de vista teórico, quanto do ponto de vista prático. Mas isso só se verifica quando restringimos nossa perspectiva de análise à lógica tradicional de ver como díspar a conhecida tríade: Estado e sociedade versus mercado.


Segundo a lógica tradicional, a missão empresarial vincula-se exclusivamente ao interesse de seus acionistas. Nessa perspectiva, a noção de interesse público entraria em choque com a clássica distinção e incompatibilidade de princípios éticos que distinguem e põem inevitavelmente em situação antagônica as necessidades públicas diante dos interesses e das aspirações de entes privados. No entanto, inúmeras corporações já se deram conta de que a mudança de paradigma ético é não só uma questão filosófica incontornável, mas uma estratégia de ocupação de espaço e legitimidade. Esse movimento tem ganhado explicação e fundamentação teórica no conceito de responsabilidade social.


As exigências da crise e o rápido crescimento do movimento socioambiental empurram a empresa para a necessidade de uma revisão de conceitos e para a importância de um engajamento num projeto ético-político de amplitude societária. Essa mudança tem-se caracterizado pela adoção dos princípios de responsabilidade social corporativa, isto é, uma intenção de ruptura como um modelo de desenvolvimento tradicional no nível dos compromissos privativos da empresa, fazendo-a se comunicar com os interesses públicos.


Essa mudança da vontade político-empresarial incorporada por valores éticos é observada por Ashley (2006) em duas vertentes. Uma primeira visão procura incorporar aos interesses clássicos da empresa a satisfação dos interesses e necessidades da comunidade na qual está inserida. Uma segunda visão, menos divulgada, amplia ainda mais o espectro de articulação do projeto ético-político-empresarial, porque abrange o que a autora chama de Stakeholders. O termo “stakeholders” foi colocado para designar o conjunto de pessoas ou empresas influenciadas direta ou indiretamente pelas ações de uma organização empresarial. Ele incorpora como interessados também nos negócios empresariais a natureza, o governo, a rede de fornecedores, a relação consumidor/comprador, etc. Trata-se, portanto, de uma maneira ainda mais radical de se perceber a necessidade de ampliação da missão empresarial.


Essa vertente chama a atenção para o fato de que o lucro empresarial não se esgota na troca de bens materiais. Ao contrário, os valores que têm como fonte os bens intangíveis que se tornam cada vez mais vitais para a eficácia empresarial são incorporados à lógica da produção tradicional, pois rompem com as barreiras econômicas tradicionais que subjugam a potencialidade das relações sociais.


A responsabilidade social é um conceito que orienta a estratégia empresarial em direção à busca da incorporação da subjetividade social como parte do negócio. É, por isso, um paradigma que nega o trágico, o falso e o aparente antagonismo insuperável que tem colocado em situação de oposição os interesses da sociedade e os interesses da corporação empresarial. É uma proposta de revisão radical de conceitos que admite a possibilidade de se transcender a visão reducionista do negócio, antes restritiva ao estímulo das trocas simbólicas contidas nas relações sociais e agora interessada nos valores humanos de sobrevivência na terra como parte indispensável ao bom negócio.


Essa mudança de rumo se efetiva no nível das organizações. Ela está sendo conduzida não só em função das necessidades de sobrevivência das empresas em face dos desafios de um mercado altamente competitivo, mas também por força da percepção de que a (re)composição do capital social dessas organizações depende inevitavelmente de uma estratégia comunicativa que amplie seu espectro de interlocutores sociais tanto de dentro para fora quanto vice-versa.


O fenômeno da ação social da empresa, para além dos seus interesses imediatos, passa a ser objeto de observação e análise não só no Brasil, mas em outros países. Teve início nos Estados Unidos, depois na Europa e agora nos é alcançado pelas regras globalizantes dos negócios em tempo real. Segundo o Instituto Ethos, a empresa responsável se ocupa da comunicação dialógica com as diferentes partes. Em primeiro lugar com os acionistas, depois com os funcionários, prestadores de serviços, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente. Isso, em diferentes espaços, de modo a assegurar que esse processo seja incorporado pela organização no raio de influência da sua cadeia produtiva.


A responsabilidade social é vista, portanto, como um compromisso da empresa com relação à sociedade e à humanidade em geral. É uma forma de prestação de contas do seu desempenho, baseada na apropriação e no uso de recursos que originalmente não lhe pertencem.


Essa nova perspectiva de reciprocidade de bem comum, redimensiona as relações sociais tanto do ponto de vista interno quanto do ponto de vista externo das empresas é o argumento fundamental para que as empresas assumam seu posicionamento sociopolítico para além dos seus interesses imediatos, engajando-se na solução dos problemas sociais que afligem a sociedade em que se inserem.


FONTE: SOUZA; Prof. Dr. Perci Coelho de, SOARES; Prof. Francilene Gomes - Responsabilidade Socioambiental - Universidade de Brasília (UnB), Centro de Educação a Distância (CEAD), Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (INEPAD) - 2006

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